Foi em uma viagem pela Espanha em 2006 que o Dia Mundial do Livro me despertou para a poesia contida em livros e flores. Ambos estavam espalhados por Barcelona, da vitrine das lojas a vendedores de rua, tornando esse dia uma experiência inesquecível (sim, eles também saudavam São Jorge, o patrono da Catalunha).
Encontrei essa dupla nas páginas de "Jardins", criação de Roseana Murray e Roger Mello, livro que me dei de presente após me emocionar com a poesia corajosa que corre pelas veias desta mulher, vítima de três pit-bulls maltratados. Ela se recusou a deixar esta vida, segundo o relato do próprio filho, e deixou o hospital ensinando que, para lidar com os desafios da vida, é preciso coragem e ternura, não força e intransigência.
A parceria com o ilustrador Roger Mello nasceu em uma viagem a Minas. Descobriram, então, uma paixão em comum: as flores. O resultado é um convite para um passeio pelos mais diversos jardins, assim como é a natureza e a criatividade humana. Após desatar um laço vermelho, eu me senti percorrendo um labirinto mágico, com paredes cobertas por plantas e palavras, em uma dose perfeita de beleza e magia.
“Fiar auroras e sentimentos
com as coloridas linhas do horizonte
e fazer um dia de flores e fontes.”
“Jardins” foi considerado o Melhor Livro de Literatura Infantil em 2001 pela Academia Brasileira de Letras (ABL), além de ter sido finalista do Jabuti no mesmo ano.
É a minha indicação neste Dia Mundial do Livro para leitores de todas as idades. É uma homenagem a essa escritora, divina representante de um dos ofícios mais antigos e mais preciosos da humanidade, e ao ilustrador, ganhador do prêmio internacional Hans Christian Andersen.
Das minhas leituras nestes primeiros quatro meses do ano, separei outros quatro livros que me arrebataram:
- A morte de Ivan Ilitch, escrito por Liev Tolstoi, é, talvez, uma das primeiras obras a tratar das agonias do luto antecipatório. Acompanhamos o auge do protagonista, embevecido pela vaidade, e a sua derrocada, com todas as nuances possíveis, inclusive a hipocrisia da sociedade. A edição que tenho não é essa da foto, mas uma de bolso da Antofágica, recomendada pela turma da Livraria Mandarina.
- Sabor: Minha Vida Através da Comida, escrito por Stanley Tucci é leitura obrigatória para quem gosta de comer o/, de boas histórias o/ e da Itália o/, não necessariamente nesta ordem. Primeiro livro que li este ano. A descrição do ator do almoço que teve em um restaurante francês com Meryl Streep, sua parceira em Julie & Julia, é impagável.
- Não Fossem as Sílabas do Sábado, escrita por Mariana Salomão Carrara, conseguiu fazer um livro triste, doído e bonito, pelo percurso percorrido pelas personagens centrais. A linguagem usada ilustra bem a desorganização provocada pelo luto, gerando uma confusão de sentimentos bem diferente daquela descrita por Tolstoi. Serve, também, como lembrete que a vida realmente pode mudar em um minuto.
- Óculos de Cor – ver e não enxergar, escrito por Lilia Schwarcz, ganhou o Jabuti em 2024. É uma literatura para infâncias que, na minha opinião, educa sobre a branquitude, demonstrando como corroboramos para o racismo estrutural quando não enxergamos o que está bem diante dos nossos olhos. Eu já li o Manual da Djamila e o excelente “Por que eu não converso mais com pessoas brancas sobre raça”, da Reni Eddo-Lodge. Contudo, a cada leitura, me parece que arranco mais uma camada da cegueira em que vivia, uma luta para desconstruir muito mais do que quatro décadas de vidas.
Por fim, não posso deixar de inserir nessa lista o meu Menina para Casar. Maria e Dona Risoleta não tem nem um ano na rua, mas já tocaram alguns corações. Será que o seu é um deles?
E você?
Neste Dia Mundial do Livro, que leituras você recomenda?
Adorei as indicações <3 O Seu já é um dos meus favoritos e coloquei Sabor: Minha Vida Através da Comida na lista!
Adorei as dicas, Tati! Estou indo pro Brasil na semana que vem. Onde consigo encontrar o seu livro? Beijo